Quando você está longe de casa por um longo tempo, viajando, você começa a sentir falta de coisas básicas, como uma rotina. Sim, aquela tal de rotina, que há meses atrás eu dizia “quero acordar cada dia em um lugar diferente, quero viajar, quero descobrir”. Eu encontrei isso em menos de uma semana em Pushkar.
Por ser uma cidade pequena, diariamente encontro pela rua viajantes que conheci em algum café, comerciantes que sempre me cumprimentam com um delicioso “namastê” e um sorriso, visito as mesmas lojas para bater um papo com os donos, tomo café da manhã e almoço no mesmo restaurante de sempre, páro sempre em frente ao lago para admirar a cidade e até um costureiro eu arranjei por aqui. São pequenas ações que se transformaram rapidamente em rotina e me fizeram sentir mais confortável na cidade e se isso aconteceu, isso se deve também aos locais, a essas pessoas tão especiais que mesmo trabalhando em todos os tipos de condições, sempre param alguns minutos para saber um pouco mais de mim ou contar um pouco mais de si. Fiquei na cidade por 7 dias e em alguns deles não fiz nada, simplesmente caminhei, descansei e observei o lago por horas. Por essa razão, o diário de viagem não ficará perfeitinho na relação dias vividos x posts.
Hoje pedi para tirar uma foto de alguns deles e de alguns lugares para guardar e não esquecer e essas fotos são um retrato da minha estadia por aqui.
O garçom do Sunset Cafe
Às vezes em pé, apoiado na porta do famoso café, às vezes sorrindo, às vezes assim, sentado, lendo tranquilamente o seu jornal. O Sunset Cafe é super conhecido por ser o melhor lugar para ver o pôr do sol na cidade. O final de tarde é acompanhado por um senhor, que toca os seus tambores animadamente e uma menina que faz maravilhas com o seu bambolê.
O dono do restaurante da esquina: Shiva Juice & Cafe
Sempre ali, à postos para sorrir, perguntar o que queríamos e como queríamos. Alguns dias pedíamos um wrap vegetal, outros um lassi, e nos cafés da manhã, o maravilhoso mix de frutas, cereais e iogurte. Um lugar simples, onde viajantes compartilham as 4 mesas do lugar, se encontram e se desencontram. No meu último dia, ao me observar com a câmera, meio tímida, ele se oferece: “my photo?” e sorri.
A Paula
Uma chilena que adora o Brasil. Nos conhecemos no rooftop do hotel, na primeira noite, enquanto ela escutava música latina com um grupo de outros viajantes. Nos dias seguintes, ela se transformou em uma companhia nas vezes em que nos encontrávamos no restaurante ou pelas ruas e até mesmo na aula de dança indiana que ela me apresentou. Com 26 anos, ela viajará por 1 ano sozinha e está há dois meses na Índia, alugando motos, convivendo com locais, visitando escolas, dormindo no chão de trens, frequentando aulas de música e dança. Uma alma livre e corajosa que admiro muito.
O bigodudo
Nunca nos falamos, mas ele sempre estava ali, no mesmo lugar, na mesma cadeira, lendo o seu jornal tranquilamente pelas manhãs.
O recepcionista da Guesthouse
Ensinou-nos que ervas indianas eram boas para digestão e até mesmo como pintar o cabelo com henna. Sempre solícito e perguntão, nos recebia e se despedia com um sorriso e carinho. Ao pedir para tirar a foto, se sentiu “honrado” e ficou até meio nervoso :).
O Costureiro
Recomendado pela Paula, ele me ajudou a recuperar uma calça minha que foi rasgada no meio e fez um trabalho milagroso. Na hora de entregar a calça e depois buscá-la, ele a virava e desvirava mostrando cada costura, cada ponto ajustado com toda a paciência do universo. Em ambas vezes ele apontava pra algum defeito nas roupas do Átila, dizendo para ele fazer a barra ou ajustar algo. O preço foi módico: R$3,00 por um trabalho e atenção magistrais.
O vendedor de amendoins
Nada simpático, mas não menos bondoso. Sim, depois de 15 dias na Índia eu tomei coragem para comer os amendoins que eles pegavam com a mão e embalavam em um pacotinho de jornal por R$0,70 centavos. Pedi para tirar a foto morrendo de vergonha, mas vale a pena a lembrança.
O aprendiz
Conheci “o aprendiz” andando pela rua com a Paula, quando ele nos chamou e ela nos apresentou. Um indiano com uma curiosidade por culturas e idiomas, estava aprendendo espanhol e sempre me perguntava de tudo sobre as minhas viagens e minha vida. No último dia, combinamos de tomar um chai no dia seguinte e me deu pena dizer que não seria possível; fiquei calada, disse um “see you tomorrow” com aquele aperto no coração, e continuei caminhando.