Bueno Brandão, a melhor surpresa da Mantiqueira

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Bueno Brandão, a melhor surpresa da Mantiqueira

Das cidades mineiras da Serra da Mantiqueira, Bueno Brandão é uma das menos conhecidas. Sua fama turística ainda vai pouco além das cercas de suas pequenas fazendas que cultivam morangos. Mas suas paisagens de morros suaves, onde brotam dezenas de cachoeiras, são tão bonitas quanto as de outras cidades bem mais famosas da região, como Monte Verde ou Gonçalves.  É justamente por isso, que Bueno Brandão, a 170km de São Paulo, ou cerca de três horas de carro, rende uma viagem de final de semana deliciosa e cheia de surpresas.

Texto e fotos: Tales Azzi

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A primeira delas é o próprio caminho até lá. A estrada estreita e sinuosa que parte da vizinha Socorro-SP exibe um cenário pra lá de bucólico. Quando você ver apenas fazendas em ambos os lados da pista, vacas pastando e encostas tomadas por plantações de café, é sinal de que já cruzou a fronteira de Minas Gerais e está chegando a Bueno Brandão. Para ir entrando no clima pacato da região e observar melhor a paisagem, convém desacelerar o carro. Isso também ajudará a evitar os buracos da pista, que não são poucos. Após uma curva, avista-se a cidade, pequenina, no cocoruto de uma colina, cercada de araucárias.

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Bueno Brandão está a 1.100 metros acima do nível do mar. O ponto mais alto das redondezas é o Pico da Torre, que fica a 1.800 metros. O nome original da cidade era Campo Místico, em alusão a misteriosas luzes que, por vezes, eram avistadas no fundo dos vales. Só em 1938, com a emancipação do município, é que veio o nome atual, uma homenagem a Júlio Bueno Brandão, político mineiro que por duas vezes foi governador de Minas Gerais nos tempos da República Velha.

Mesmo com o passar das décadas, é provável que pouca coisa tenha mudado em Bueno Brandão, que continua minúscula e tranquilíssima. Tem apenas dez mil habitantes. Sua via principal tem o curioso nome de Rua da Saudade e termina na bela praça central, onde fica a Igreja de Nosso Senhor do Bom Jesus. As ruas, a maioria ladeiras, são de paralelepípedos. Semáforos não há. Engarrafamento então ninguém nunca viu por ali. Trânsito só acontece quando a charrete do leiteiro, que traz leite direto da fazenda para as casas dos moradores, estaciona bem no meio do caminho, bloqueando a passagem. Afinal, encostar na calçada para que se quase não passa carro algum.

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Bueno Brandão e suas cachoeiras

Para o visitante é importante saber que no entorno da cidade há 32 cachoeiras (catalogadas). A maioria pode ser visitada. Algumas são fáceis de chegar, como a do Sossego, Félix, Machado I e Machado II, que têm acesso fácil a partir da estrada para Socorro. Ficam todas a menos de 800 metros da pista, nem é preciso caminhar por trilhas. A do Félix é bem bonita e estruturada, com barzinho e escadaria para chegar até a beira da água. A do Machado II, com 75 metros de queda, também é muito bonita e vale a pena conhecer.

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A mais visitada é a Cachoeira dos Luis, com 30 metros de altura. Fica a 18 km do centrinho da cidade, seguindo por estradas de terra. No local, foi montado um complexo de lazer (paga-se R$ 8 pela entrada), que inclui uma pousada com chalés avarandados com vista para a cachoeira, restaurante, circuito de arvorismo e playground. O mais legal são as duas tirolesas: uma com 550 metros de extensão (R$ 55) e outra de 350 metros (R$ 35). A tirolesa mais extensa é imperdível. Começa no alto do morro, atravessa um vale a 100 metros de altura, e na descida, deixando os aventureiros diante de uma vista privilegiada da Cachoeira dos Luis. Em breve, o complexo irá se transformar em um parque de aventuras, com a inauguração de um conjunto de pistas de mountain bike e down hill, além de um passeio de bóia-cross pelo rio.

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Bem perto dela fica a cachoeira Santa Teresinha, que é bem amigável, com uma prainha e um poço tranquilo para nadar. É um bom lugar para levar as crianças. Fica ao lado de um sítio, sem necessidade de caminhar por trilhas, e, no verão, conta com um barzinho aberto bem ao lado da tal prainha.

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Passeios guiados

Já para ir às cachoeiras mais selvagens e inexploradas, como Cascavel, Ciganos e Sertãozinho, ou para subir aos melhores mirantes, já é mais complicado. Falta sinalização pelas estradas de terra e é fácil se perder nas bifurcações, mesmo tendo em mãos o mapa turístico da região, distribuído no Centro de Visitantes (ao lado da igreja). Melhor nem tentar. Contrate logo um passeio com o receptivo Buenaventura (www.buenaventura.com.br), do piracicabano Adriano Camolez, um sujeito muito gente boa, que leva a galera numa Toyota Bandeirantes, adaptada com bancos na carroceria, ao som de uma trilha sonora tipicamente mineira, com direito a muito Lô Borges e Flávio Venturini, rumo aos melhores pontos da região. Assim, o seu carro fica na pousada, sem sacolejar nos buracos das estradas de terra, e você não perde tempo para chegar aos lugares.    

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Só com o passeio guiado é possível, por exemplo, ir ao Pico dos Dois Irmãos, a cerca de 15km da cidade, porque não há placa alguma informando onde você precisa deixar o carro e onde começa a trilha de vinte minutos, que atravessa um pasto, e leva a um platô no alto de um morro, de onde se tem uma vista de 360o. graus daquele belo pedaço da Serra da Mantiqueira. No caminho para lá, no bairro de Santa Rita, há uma parada estratégica no botequim do Seu Nicanor, que serve pastel de farinha de milho com recheio de queijo minas.

Em um dos passeios, a Toyota cruza com alguns parreirais e estaciona ao lado da Vinícola Fidêncio, uma pequena fazenda a 16km do centro da cidade, que produz, além de vinho, licores e cachaça artesanal. O proprietário é “Seu” Dito, uma espécie de faz-tudo. É ele quem planta, colhe, produz as bebidas e atende aos visitantes, que podem fazer degustações gratuitas. A cachaça do Seu Dito é envelhecida em barril de carvalho, ganhou uma coloração dourada e o curioso nome de Whisky Mineiro. O mais diferente é o vinho de amora, fabricado com o processo idêntico ao do vinho convencional. Tem sabor doce e muito suave (R$ 30 a garrafa). 

Para quem curte trilhas e caminhadas mais fortes, a Buenaventura oferece diversas opções de roteiros, como o trekking de três horas que passa por quatro cachoeiras selvagens: Ciganos, Cascavel I, Cascavel II e David I.  Outra trilha leva ao Pico das Torres, o ponto mais alto da região, a 1800 metros acima do nível do mar, acessado ao final de 40 minutos de caminhada puxada em subida íngrime.

Turismo crescente

Bueno Brandão ainda está longe de ter o mesmo fluxo de visitantes como Gonçalves e Monte Verde, que já ganharam muitas pousadas e restaurantes de alto nível. Mas o turismo, aos poucos, vem aumentando, e a cidade atrai cada vez mais pessoas em busca das paisagens da serra e do clima bucólico do campo. Foram justamente esses motivos que atraíram o casal Paulo e Andréa Lépore, de São Paulo. Eles chegaram num final de semana apenas para passear, mas gostaram tanto do lugar que resolveram ficar para sempre. Compraram um terreno à margem de um riacho e, em 2006, inauguraram a pousada Vizinho das Estrelas (estrada Bueno Brandão-Socorro, km3). São apenas quatro suítes, sem luxos mas com decoração colorida e simpática, em meio a um gramadão, cercado de verde.



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O forte da pousada é o restaurante, a Cantina e Pizza na Pedra, comandada pela Andréa, que é chef profissional, com especialização em gastronomia italiana na Toscana. É ela quem prepara as massas e as pizzas seguindo as receitas da avó italiana, a “Nona” Angelina Valentino. Nos finais de semana, o restaurante lota, tem fila de espera. Há quem pegue estrada e venha das cidades vizinhas apenas para provar a sua famosa “pizza de alface”, preparada com alface, muzzarela, parmesão e um molho especial (que ela não revela a receita). Custa R$ 43. Todos os ingredientes são orgânicos. A pizza é assada na pedra, aquecida a 350º.C, o que deixa a massa crocante e deliciosa. Para sobremesa, faz sucesso o sorvete, que também é de produção própria, “leve, sem gordura hidrogenada”, explica a chef. 

Delícias regionais

Para comer outras especialidades locais, uma dica é ir ao Café com Mistura (Rua Prefeito Domingos de Franco, 228), que serve bolos caseiros bem gostosos. Experimente o de fubá cremoso com cobertura de goiabada, ou o bolo com creme de leite ninho (R$ 4 a fatia).

No caminho para Ouro Fino está a queijaria Serra das Antas, que faz queijos de cabras divinos, que são vendidos até em lojas de produtos gourmet em São Paulo, mas que se podem comprar na cidade a preços bem mais razoáveis.

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Na cidade, vale visitar o Galpão Mineiro (Rua da Saudade, 303), uma linda loja que vende comidas e artesanatos típicos de Minas Gerais. É o melhor lugar para comprar algo para levar para casa: doce de leite, queijo meia-cura, panelas de pedra-sabão, esculturas em madeira do divino espírito-santo… E se você não gosta de pinga é porque ainda não provou a que o Djalma, o proprietário da loja, mantém envelhecendo em grandes tonéis de carvalho. Vale degustar, aquela pinga não queima a garganta e mal dá para acreditar que é cachaça, de tão suave o sabor. É outra das muitas e boas surpresas bueno-brandenses.

Se você procura um lugar pequeno e tranquilo para curtir um final de semana saboroso na Serra da Mantiqueira, muito provavelmente irá gostar de Bueno Brandão, e querer voltar outras vezes. Até porque um único final de semana é pouco para conhecer sequer a metade das atrações dessa encantadora cidade das montanhas mineiras.

Para mais informações sobre as atrações de Bueno Brandão – passeios, gastronomia e compras, consulte o site:  www.buenobrandaoroteiros.com.br

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Comments 2
  1. Passei muitos réveillons em Bueno Brandão, numa pousada que se chamava Vale Verde. O proprietário era o Carlos Eduardo Costa Batagini, já falecido. Que bom que esse cara apareceu em minha vida e na vida de meus amigos!
    Saudades, saudades, saudades…
    Esse texto me fez viajar no tempo. Obrigado. Namaskár!

  2. Estive apenas uma vez em Bueno Brandão. De cara, percebi o potencial desse lugar. É uma cidade para se visitar muitas e muitas vezes.. Agradeço as dicas, principalmente sobre ir com o carro do piracicabano. Em Águas da Prata enfiamos nosso humilde carinho nas estradas até o Pico do Gavião. Nunca mais! Só com carro próprio para esse tipo de rolê. E a dica do trekking fica para quando a pequena estiver maior. Vai andar no meio do rio e cachoeira com a gente! Kkkk Vlw pelas dicas. 🙂

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