O encontro com a Wayan, de “Comer, Rezar, Amar” em Bali
Faltavam 30 minutos pra começar a minha aula de yoga e eu e o Átila decidimos tomar um suco no café ao lado da escola. O Átila parou por alguns segundos pra olhar algo e eu girei a cabeça pra olhar o que era; passei o olho por um panfleto que tinha as seguintes palavras: “wayan, elizabeth gilbert…” e não terminei de ler, levantei a cabeça meio ansiosa, olhei pra dentro daquela casa que parecia mais uma garagem e de repente, vejo uma mulher morena; atrás dela, fotos da Liz. Era A Wayan. A famosa curandeira e amiga balinesa da autora do livro “Comer, Rezar, Amar”. Tudo isso passou em menos de um minuto e eu olhei pro Átila com aquela alegria de uma criança que descobre um segredo. Eu tinha anotado o endereço da Wayan em uma planilha do Google Docs meses atrás, que não voltei a abrir, e quando eu menos esperava, sem procurar, descubro que a clínica dela está a duas casas da escola de yoga que eu frequentava todos os dias em Ubud.
A minha sorte foi que naquele bendito dia só havia uma dupla de amigas francesas na clínica. Ela me olhou e perguntou se eu queria uma consulta, eu disse que no dia seguinte seria melhor, agradeci e saí. Atravessei a rua com o Átila, me sentei no café e disse: “Átila, acho que vou perder a aula. Li que muita gente espera por horas por uma consulta e ela está lá, livre, do outro lado da rua.”. Ele entendeu, e voltei correndo pra “clínica” da Wayan. Ela tinha me dado um panfleto com os preços, e a leitura de mão e corpo e 30 minutos de consulta com ela custavam R$70,00. O “pacote completo”, com remédios para 1 mês, tratamento corporal e outras coisas custava R$170,00.
A clínica parecia mais uma garagem, cheia de ervas, cartazes, folhas, fotos e muitos outros elementos de uma casa asiática comum. A limpeza não reinava ali, nem muito menos a organização, mas tudo isso só me fez sentir ainda mais no ambiente que a Liz Gilbert descreveu e eu vi no filme.
Ao voltar, ela ainda estava ocupada, lendo a mão da tal loirinha francesa, que tentava entender o que ela dizia. Sentei-me na escada da clínica, onde o filho pequeno da Wayan comia arroz frito com ovos e me ofereceu um pouco do suco dele. Depois de três minutos escutando a francesa perguntar: “but…I will stay with him after 31 of before? Now I´m 28″, eu me meti sem ser chamada e traduzi:” a Wayan está dizendo que se você não ficar com ele até os seus 31, não vai rolar.” A casa/clínica da Wayan é assim: as previsões e consultas são feitas na porta, em pé mesmo e na frente de todo mundo; cada pessoa pode escutar as previsões da outra, ver pacientes enrolados em toalhas, caras com cremes, outras esperando na parte de fora, apesar daquele dia estar vazia.
Em menos de 10 minutos a Wayan terminou a consulta com a francesa e pediu que eu me levantasse. Ela colocou algunas folhas entre os dedos dos pés, pegou uma pequena oferenda, levantou-a com os braços, fez uma oração e começou a me tocar: dedos das mãos, dos pés, axilas, barriga, e enquanto me tocava, fazia anotações e dizia alto: pressão sanguínea, vitamina, ácido, barriga, memória… Logo depois, me deu uma folha que dizia “previsões para o futuro” e me pediu que circulasse as áreas que eu tinha interesse em saber: energia, memória, trabalho e etc.
Depois disso, ela pediu que eu me levantasse novamente, me colocou na quinta da porta, onde entrava luz, fechou a minha mão e começou a “ler” as linhas laterais, por mais ou menos 10 minutos, enquanto fazia anotações de números. Era a minha vida amorosa ali, na lateral da minha mão.
Depois ela pediu que eu me sentasse na mesa. O filho dela não parava de falar e se sentou no colo dela, enquanto ela me dizia que eu precisava de mais vitamina E, que pepino não fazia bem pro meu estômago, assim como limão e abacaxi – segundo ela, eu tenho acidez devido ao meu caráter. Logo depois da análise da minha saúde, começou a análise pessoal. Ela mencionou os picos altos de energia do meu corpo, até mesmo sexual, falou sobre trabalhos, sobre espiritualidade…e eu decidi perguntar sobre amor. Bem, a Wayan adivinhou que eu tive 3 namorados, mas não sabia que eu estava casada atualmente, nem muito menos que esse era o meu segundo casamento. Ela jurou que o meu grande amor viria aos 33. Ao perguntar quando eu voltaria pro Brasil definitivamente, ela respondeu: “em 2 anos”; bem, eu estou voltando para morar no Brasil em 20 dias. Apesar de não acreditar nela a partir dessa consulta, eu me simpatizei muito com a Wayan. Ela tem aquele sorriso alegre, um jeito engraçadinho e obviamente, sempre a verei como uma personagem de um livro que eu li e que foi real para mim.
Depois dessa análise pessoal meio frustrante, ela me deu um coquetel de remédios que ela dá para todas as pessoas que fazem essa consulta. Ela chamou a Tutti, a filha dela, que na época em que a Liz Gilbert conheceu, tinha 8 anos. Hoje a Tutti é uma menina de 18 anos, estudando a arte de curar através das ervas e trabalhando junto com a mãe. A Tutti me trouxe um copo de água e me dava as pílulas que a mãe pediu, falando com uma voz infantil e um sorriso delicioso: “this one is for beauty” and “this one…ahm…is for your heart”…Logo depois, veio com umas folhas bem verdinhas que eu deveria mastigar até ficar pastosa e engolir, para os meus rins; foi horrível, mas eu consegui.
Mesmo depois de tomar o “coquetel da Wayan”, eu fiquei lá, conversando com ela. No total, tive mais de uma hora de consulta, sendo que o tempo normal é de 30 minutos. Conversamos sobre o sucesso do livro, a vida dela atual, sobre a minha vida…e quando eu perguntei se ela estava feliz com tudo isso, ela me disse: “Bem, sou humana e tenho dias felizes e tristes”.
Depois dessa primeira consulta, eu passei por lá mais duas vezes para vê-la e conversar rapidinho. Ela insistia que eu precisava de uma limpeza de chacras -que me custaria R$160,00 e me dizia que a minha vida iria mudar e eu receberia muito mais dinheiro depois disso. Mas depois das previsões tão equivocadas dela, eu já não confiava; mas nem por isso digo que não valeu a experiência, já que ficar frente a frente com ela e com a Tutti, conhecer a clínica, ver como tudo funcionava foi humanizar uma história que eu tinha lido em um livro que naquele momento me inspirou, e só por isso valeu a pena.
Queria muito ter uma foto dela, mas todos os dias ela estava suada ou desarrumada e dizia: “next day, today no beautiful” e eu simplesmente a respeitei. E assim, a Wayan mais uma vez ficou apenas nas minhas lembranças e dessa vez, mais real do que nunca.
Endereço, para quem se animar a conhecê-la:
Traditional Balinese Healing – Jalan Jembawan 5, Ubud, Bali, Indonesia. Tel: +62 361 8843042.
Referência: procure pelo Buda Cafe, a clínica dela está em frente.
hahaha Adorei o post! e o blog! Amando como vc descreve as experiências!!! Parabéns!!!
Valeu, Joanna! :))